NOTICIA | USP APRESENTA MOSTRA DE ANIME

Crianças de todas as idades podem ver ou rever "Meu vizinho Totoro"

Está em férias em São Paulo e quer se divertir sem gastar muito ? De hoje até 09 de agosto a Universidade de São Paulo (USP) apresenta a 2ª MOSTRA ANIME  na sala “Paulo Emílio” do Cinusp. O legal é que os filmes  são gratuitos , graças ao apoio da Fundação Japão em São Paulo e da distribuidora Sony Pictures.

Com mais de 20 filmes, o festival tem como destaque seis  filmes do genial Hayao Miyazaki (nunca será excessivo rever seus filmes), e    Makoto Shinkai, Satoshi Kon, Hideki Anno, entre outros.

Anime (pronuncia-se “animê”) é uma abreviatura da palavra inglesa animation , os conhecidos  desenhos animados produzidos no Japão que ganharam o mundo através do trabalho de   Osamu Tezuka (o Maurício de Souza japonês), sendo influenciado pelos  mangás ( as histórias em quadrinhos japonesas). Abrangem  diversas técnicas a temas e histórias de vários  gêneros, do drama sério ao filme de horror, da fantasia infantil à comédia erótica.

Destaques

5 Centímetros por segundo: separações.

Um dos destaques é o  trabalho de Makoto Shinkai, que pode ser conferido nos premiados longas-metragens “5 Centímetros Por Segundo” e “O Lugar Prometido em Nossa Juventude”, marcados pelo  tom introspectivo e alusão às feridas de um Japão ainda mal cicatrizado da Segunda Grande Guerra.

Outro destaque é Hayao Miyazaki  vencedor do Oscar de Melhor Animação de Longa-metragem (A Viagem de Chihiro). Os fãs e terão oportunidade de ver uma saraivada de produções  do Estúdio Ghibli:  “Nausicaä do Vale do Vento”,  “Laputa: O Castelo no Céu”,  “Porco Rosso” , O Serviço de Entregas de Kiki”, Princesa Mononoke” e “Meu Vizinho Totoro”. Usualmente Miyazaki  refere-se a um Japão mítico, bucólico e utópico: garotas como heroínas, criaturas fantásticas, comunidades cooperativas, florestas, perseguições e o choque entre o ultrarrealismo e o surrea.

"Tokyo Godfathers" é uma fábula cristã no Japão.

A mostra também retoma o trabalho de outros dois animadores renomados.  “Tokyo Godfathers”, de  Satoshi Kon (Paprika, Perfect Blue, Millennium Actress), falecido em agosto de 2010, aborda  uma fábula cristã em terras nipônicas, tendo como protagonistas  três mendigos: uma ex-drag queen, um antigo ciclista alcoólatra e uma adolescente fugitiva, forçados a cuidar de um bebê que encontram na rua. Kon também é o roteirista de um dos capítulos de “Memories”, filme dividido em três partes que conta com a colaboração de outro nome fundamental do anime, o Katsuhiro Otomo, diretor do clássico Akira.

A ficção-científica, um dos subgêneros mais populares do anime, também marca presença com  “Evangelion 1.11″ e “Evangelion 2.22, dois longas-metragens de uma tetralogia baseada no mangá e na série de televisãoNeon Genesis Evangelion, um dos melhores e mais importantes seriados de animação de todos os tempos. Os filmes têm como tema o apocalipse  – Deus envia “anjos” gigantes para dizimar a raça humana e pertencem a uma vertente denominada “mecha”, caracterizada por tramas que giram em torno de robôs gigantes e suas batalhas.

Já , “Jin-Roh”, filme baseado em um mangá homônimo de Mamuro Oshii (Ghost in the Shell), trata das crises existenciais de um soldado cercado pelo terrorismo, revoltas populares e organizações paramilitares de um mundo totalitário e claustrofóbico, em que a Alemanha nazista venceu a Segunda Guerra Mundial.

Artesanal e tecnológico

Técnicas  “artesanais” de animação ganham destaque no programa especial de curtas-metragens composto por obras de dois animadores ainda desconhecidos do grande público: Kihachiro Kawamoto e Naoyuki Tsuji.  Kawamoto faz um uso  da técnica de animação conhecida como stop-motion, valendo-se de bonecos e objetos inspirados no tradicional teatro de marionetes Bunraku. , Kawamoto desenvolve um trabalho marcado pela fusão do stop-motion com elementos da cultura tradicional japonesa, como o budismo, as antigas lendas, o Haikai, o teatro  e o Kabuki.

Naoyuki Tsuji, por sua vez, anima seus desenhos de traço simples feitos à mão com carvão vegetal. Utilizando uma única folha de papel, ele trabalha suas imagens apagando-as e as redesenhando, deixando resquícios das cenas anteriores sob as novas, conferindo assim um aspecto “sujo” e incomum à sua produção. Sua técnica singular faz emergir de seus filmes uma cosmogonia organicamente sombria e perturbadora, apesar da aparência infantil.

Tanto Kawamoto quanto Tsuji apostam em uma estética muito mais radical, incomum e sombria do que a dos animes “tradicionais”, ampliando o leque de estilos representados nesta segunda edição da MOSTRA ANIME.

Serviço

2ª MOSTRA ANIME
Até  04 de agosto de 2012

Horário:
16h e 19h, de segunda a sexta

Local:
Sala “Paulo Emílio” do CINUSP
Rua do Anfiteatro, 181
Colméia – Favo 04 (sala de exibição)
Cidade Universitária
São Paulo – SP
Tel: (11) 3091-3540, das 09h às 17h

Entrada Franca

Realização:Cinusp e Apoio:Fundação Japão e Sony Picture

Programação e sinopses em

www.usp.br/cinusp

www.fjsp.org.br

www.sonypictures.com.br

12 KINEMA | O SAMURAI DOS "FAROLESTES" DE KUROSAWA

O professor de literatura Klaus  Eggensperger  escreve sobre a figura do samurai japonês criada pelo cineasta Akira Kurosawa nos filmes Sanjuro e Yojimbo – personagens  que reúnem características heróicas masculinas do imaginário ocidental e oriental

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12 PALCO | A MÚSICA BRASILEIRA NO JAPÃO

O compositor Léo Nogueira escreve sobre o fascínio que a  música brasileira, em especial a bossa-nova,  exerce sobre os japoneses

Por Léo Nogueira

Loja de Ryosuke Itoh, proprietário da Tayo Records, que importa música brasileira.

O Oriente costuma exercer um fascínio sobre nós, ocidentais. Essa coisa da cultura milenar, do zen, da sabedoria acima da intelectualidade, enfim, tudo o que é ligado a esse universo que é tão diferente do nosso. E, dentro desse universo, o Japão ocupa um lugar de destaque em nosso imaginário. Eu, quando moleque, via-me muito ligado aos desenhos e séries japoneses que ilustravam minhas tardes, da mesma forma que muitos outros garotos que eu conheci partilhavam dessa minha ligação. A gente se divertia à beça só de imaginar cavar um buraco na terra pra sair no Japão.

Mas com o crescimento,  tal universo não nos abandona; há outros elementos que mantêm a ligação acesa, o cinema, a literatura, a poesia; saindo da arte há a tecnologia. Enfim, a Terra do Sol Nascente possui um ímã que nos atrai, apesar da diferença. Ou melhor, é justamente isso o que nos atrai, afinal, o magnetismo obedece à máxima “os opostos se atraem”. E é justamente  a respeito do outro lado da moeda dessa atração que eu gostaria de tratar neste texto. O encanto que o Brasil exerce sobre o Japão.

Tive o privilégio de viajar ao Japão em três oportunidades e senti na pele o carinho com que os japoneses nos tratam. Eles, que formam um povo sério, tradicional, trabalhador, por sua vez sentem-se fascinados pelo Carnaval, pela alegria e pela informalidade de nosso comportamento. Claro que há um pouco de exagero (e mesmo de mito) nisso, mas a recíproca também é verdadeira. O mais importante nisso tudo, porém, é a relação que eles  têm com nossa música.

Ouso afirmar que eles, por meio de pesquisas, acabam conhecendo mais acerca de nossa música que nós mesmos. Ao passo que nossos meios de comunicação divulgam e difundem a música comercial, descartável e maniqueísta, no Japão é comum, por exemplo, alguém entrar num McDonalds e ouvir Garota de Ipanema. Claro que, como eles são tradicionalistas, não vão muito além do consumo de nossa música já consagrada, principalmente a bossa nova e o samba, que têm presença garantida em muitos estabelecimentos de música ao vivo em todo o Japão, principalmente em Tóquio.

Quando alguns artistas brasileiros, como João Gilberto, Joyce, Marcos Valle, Carlos Lyra, entre outros, apresentam-se por lá, os ingressos se esgotam rapidamente. Muitos destes provavelmente têm mais público lá que aqui. O mais triste é que, como há um total desinteresse de preservação de nossa música por parte das gravadoras daqui, grande parte de nosso acervo vem sendo paulatinamente adquirido pela indústria discográfica japonesa. A continuar nesse ritmo, em poucos anos, quando algum estudante brasileiro fizer um trabalho sobre determinada época da música brasileira, terá que, fatalmente, pesquisar em sites japoneses.

CDs de João Gilberto, em japonês Foto de Alexandre Mauj.

Brasileiros e japoneses

O brasileiro tem em seu DNA a mistura. Por conta disso, apropria-se do que vem de fora e transforma em produto nacional. A música brasileira do século XXI é exemplo disso: pop, rock, reggae, bolero, salsa, tango e muitos outros ritmos e estilos musicais que aportaram por aqui foram rapidamente absorvidos e reincorporados a nossos ritmos populares. Artistas como Lenine, Djavan, João Donato e tantos outros são perfeitos exemplos dessa característica brasileira de apropriação. Com o Japão ocorre algo parecido, mas com resultado distinto. Pela característica cultural do próprio povo japonês o que vem de fora é, sim, executado e reverenciado, mas poucas vezes entra no processo de criação.

Portanto, quando entramos em contato com cantores ou instrumentistas japoneses que se dedicam à música brasileira, notamos que o repertório que executam é sempre o mesmo, ou seja, clássicos da bossa nova e, em menor escala, do samba. Esse excesso de respeito impede que eles recriem partindo do já criado. Claro que há exceções, mas são muito poucas e, na maioria das vezes, com resultado aquém do original. Um exemplo até engraçado: certa vez vi uma roda de samba lá, até tudo muito parecida com as nossas. A diferença era que todos os músicos, tocassem cavaquinho ou pandeiro, tinham a sua frente, em vez de copos de cerveja, estantes com partituras!

Mas o mundo está mudando e, com ele, o Japão (já escrevi sobre isso no texto As Mulheres do Japão, no meu blogue). Já há até desfiles de escolas de samba por lá! E, ainda que timidamente, outros ritmos brasileiros estão chegando à terra de Kurosawa, principalmente a música nordestina, e cada vez mais artistas da nova safra têm aterrissado no aeroporto de Narita. Em contrapartida, e como não poderia deixar de citar, hoje no Brasil há uma compositora japonesa que nada contra a corrente e traduz tudo o que aprendeu de música brasileira em canções próprias. Não vou me estender muito, pois podem achar que se trata de nepotismo, mas queria terminar dizendo àqueles que não conhecem que pesquisem sobre Kana Aoki, uma japa do barulho que, só por mera coincidência, há exatos doze anos leva meu sobrenome e mora em minha residência.

Será o fim do mundo?

Links

 

Léo Nogueira é compositor, com mais de 500 composições gravadas. Escreve no blogue  O X do Poema.

 

     

     

     

     

    12 HAICAI | INVERNO

    Gravura de Hiroshigue

    hito-goe no yahan o suguru samusa kana

    No meio da noite,
    A voz das pessoas que passam —
    Que frio!

    Yaha

    Veste a manhã
    Como um véu de noiva  —
    Névoa de inverno.

    Denicelis Fonseca

    sara o fumu nezumi no oto no samusa kana

    O som de um rato
    Andando sobre o prato —
    Que frio!

    Buson

     

    Silencioso

    Ele passa por mim  —
    O vento frio.

    José Domingos Mutarelli

     

    umi kurete kamo no koe honoka ni shiroshi

    Anoitece no mar —
    Os gritos dos patos selvagens,
    Vagamente brancos.

    Bashô

    Pata e patinhos
    Nadam no lago gelado –
    Nem ligam para  o frio.

    Charles Silva

     

    Matsuo Bashô (1644-1694) é o criador de uma  forma poética japonesa, que ficou conhecida como  haikai .  Shida Yaha (1163-1740)  e Yosa Buson (1715-1783) são seus  discípulos.   Os haicais dessa página foram traduzidos por Edson Kenji Iura e publicados no site Caqui .

    Denicelis Fonseca, Charles SilvaJosé Domingos Mutarelli participaram de oficinas de haicai orientadas por Mahelen Madureira no projeto Fênix, implantado pela Secretaria de Assistência Social na Associação Prato de Sopa Monsenhor Moreira, na cidade de Santo, em São Paulo  e tiveram poemas publicados na antologia Luas e Marés (Edições Costelas Felinas, 2010).

    12 RECEITAS | TSUKEMONO

    Benishooga1

    Ingredientes:

    • 1 tigela de gengibre novo cortado em fatias delgadas (estas em tiras fininhas na direção das fibras)
    • 2 colheres de chá de sal
    • 1 colher de chá de açúcar
    • Vinagre a gosto
    • 1 gota de anilina vegetal vermelha

    Modo de Preparo:

    Espalhe por cima dos gengibres o sal e o açúcar, aperte-os com as pontas dos dedos.

    Deixe descansar por 15 minutos aproximadamente, e comprima-os de leve para retirar o líquido. Deposite o shooga (gengibre) num vidro esterilizado, cubra-o com vinagre e dê a coloração vermelha (beni) com uma gota de anilina. O melhor é deixar o shooga curtindo por 1 semana antes de consumir.

    Obs: O benishooga conserva-se inalterado por até 2 meses em pote bem fechado.

     

    Tsukemono2 (receita de Maria Cristina Fukushima)

    Colocar num recipiente grande tipo balde, folhas de acelga já limpas, rodelas de nabo, pepinos e cobrir com sal abundante. Colocar uma tampa por cima e sobre  a tampa uma pedra bem pesada. Para dar um sabor melhor, costuma-se colocar cascas de laranja. Depois de três dias as verduras soltaram seu líquido e ali estão os picles para consumir.

     

    Salada de pepino e sementes de gergelim3

    O pepino japonês, kyuri, é mais estreito, menor e menos aguado do que o pepino comum. Pepino faz bem à pele e evita a acne. Aplicado externamente, o suco de pepino faz secar as espinhas.

    Ingredientes:

    • 2 pepinos
    • sal
    • ½ xícara de suco de limão
    • ½ colher de shoyu
    • 2 colheres de sopa de sementes de gergelim torradas

    Modo de preparo:

    Divida o pepino pela metade no sentido do comprimento. Depois corte em fatias diagonais finas. Coloque num prato, salpique com sal e prense por meia hora. Enxágüe as fatias com água gelada e esprema o excesso de líquido. Coloque as fatias de pepino numa tigela e acrescente os ingredientes restantes misturando.

     

    Fontes:

    ¹ http://www.cozinhajaponesa.com.br

    ² Uma receita…puxa outra – Receita com ingredientes da culinária japonesa. Maria Cristina Fukushima. Insight editora, Curitiba, 2010.

    ³ O Zen na Cozinha – Princípios da culinária Shôjin. Monja Gyoku Em. Editora Cla, São Paulo, 2008.

     

    12 LITERATURA | ISHIKAWA: LEITO DE PEDRAS E LIRISMO

    O poeta Takuboku Ishikawa teve uma vida mais curta que a métrica do tanka –   27 anos contra 31 sílabas. Mesmo assim, cem anos depois de sua morte,  é um poeta longevo e ainda hoje admirado.

    Por Francis Kurkievicz

    No aniversário de morte do poeta japonês Takuboku Ishikawa, foram poucos os que se lembraram dele. Ao menos cá em terras guaranis. Quiçá a lembrança de seu nascimento seja por nós tão celebrada quanto a sua poesia.

    Ishikawa, terceiro dentre quatro filhos do abade Ittei e sua esposa Katsu, nasceu Hajime em Hinoto, província de Iwate, nordeste do Japão, no dia 27 de outubro de 1885, no templo budista Jou-Kou-ji. Tendo falecido de tuberculose em Tóquio, em 13 de abril de 1912, deixando um pequeno grupo de admiradores e amigos, entre eles Natsume Soseki, Shorei Morita, Gyufu Soma, Tomei Hitomi, Mokutaro Kinoshita, Hakushu Kitahara, Nobutsuna Sasaki, Zenmaro Toki, Akiko e Tekkan Yosano.

    O período em que a vida de Ishikawa se deu conheceu muitas transformações senão radicais no mínimo intensas: abertura dos portos ao comércio, industrialização, urbanização, intercâmbio cultural, sotaques, imigração, circulação de idéias socialistas, capitalistas, anarquistas, revolucionárias, malditas, etcaetera e tal, um momento histórico em que o mundo tradicional japonês era invadido pela mundaneidade importada Made in ocidente, onde o homem contemplativo (rural, bucólico, alcoólico) era oprimido pela solidão urbana, onde a modernidade pavimentava as ruas de Tokyo com suas paixões irônicas e desejos contraditórios. Ishikawa foi um destes poetas atingido em cheio pelas indigentes questões modernas.

    Ambicioso, encontrou nas letras a força para superar a sua mediocridade sertaneja, a sua inabilidade fabril, o saudosismo infantil, a consciência da desgraça material e espiritual.  Hajime Ishikawa, antes de se consagrar Takuboku (pica-pau) assinou tankas e prosas como Suikou, Hakuhin em revistas como Mikazuki, Niguitama,Samidare, Iwate Nippou, Myoj, Shou Tenti, escrevendo mais que crioulo doido.Perseguiu o sucesso literário como um cão persegue um osso imaginário. E vida de cão Ishikawa teve como nenhum cão teve. A existência miseranda, de extrema penúria, atormentada por enfermidades, desgraças familiares,  forjou o estilo direto e simples de sua escrita, atitude de quem vive a vida em sua mais densa realidade. E foi esta sinceridade sem disfarces, desprovida de recursos retóricos que ganhou a receptividade do povo japonês, tão acostumado aos sortilégios da vida cotidiana.

    O professor de Literatura Kensuke Tamai, entre outros estudiosos, compilou em 17 volumes a obra completa de Ishikawa para a Editora japonesa Iwanami entre os anos de 1953 e 1954, legando ao mundo uma coleção de escritos organizados, onde se podem encontrar desde poesias em versos livres, bem como tankas, romances, críticas literárias, panfletos e diários pessoais. Alguns estudiosos afirmam que a fama posterior de Ishikawa supera a sua obra, pois metade do que escreveu deixa muito a desejar, porém encontram-se em seus textos, sobretudo nos tankas, as pistas para compreender o seu sucesso tardio (e também a sua personalidade): simplicidade da escrita (com abundância de hiraganas); lirismo carregado de realidade significativa; recitativo fácil de memorizar; texto com apelo narrativo que provoca a identidade direta entre autor e leitor; musicalidade; ritmos e cores da vida cotidiana; alegrias desesperadamente tensas; angústia e desespero do homem moderno; pobreza inquietante; memória da terra natal; solidão voluntária e involuntária.

    Takuboku Ishikawa não conheceu o sucesso em vida, apenas a miséria e o labor insano. O sucesso e reconhecimento literário, mesmo depois da morte, tardou a despontar como o sol no inverno. Ishikawa é um destes poetas que já nascem póstumos, para os quais nem sucesso e nem vida são possíveis. Mas como dizia meu saudoso avô: “…e eu lá quero saber dos poetas, eu quero é a poesia, esta indomável entidade que se apossa de nossos corpos para se autorrealizar, e depois de manifesta nos descarta, nos gospe de volta à vida insólita e preterida”.

    Se a poesia não nos pertence, o que resta ao poeta, então?

    Tankas: Tradução e versão de Ayuko Sakanoue e Francis Kurkievicz.

    1.

    マチ擦れば

    二尺ばかりの 明るさの 中をよぎれる

    白き蛾のあり

     

    Machi sureba

    Nishaku bakari no        akarusa no        naka wo yogireru

    shiroki  ga no Ari

     

    Fósforo aceso.

    No círculo de luz

    uma mariposa branca

    Acende a escuridão.

     

    2.

    病のごと

    思郷の心 湧く日なり

    目に青空の 煙悲しも

    Yamai no goto

    Shikyō no kokoro        waku hi nari

    Me ni aozora no        kemuri kanashimo

     

    Como água na fonte, hoje jorra a tristeza.

    Da terra natal, sou saudades.

    Fumaça no céu azul nos olhos se reflete.

     

    3.

    糸切れし 凧のごとくに

    若き日の 心かろくも

    飛び去りしかな

    Ito kireshi        tako no gotoku ni

    Wakaki hi no        kokoro karokumo

    tobi-sarishi Kanã

     

    Foi-se embora, leve e solta,

    Como pipa cuja linha se rompeu,

    Meu jovem coração, jovem.

    Francis Kurkievicz é filósofo, escritor e roteirista, formado em Filosofia pela UFPR, pós-graduado em Yoga pela UNIBEM e MBA em Gestão e Produção de RTV pela UTP. Mora em Vitória, Espírito Santo.

    12 ARTES VISUAIS | RAKU, UMA EXPERIÊNCIA COM BARRO E FOGO

    Nesse artigo, o ceramista Celso Setogutte apresenta a arte da cerâmica raku, que tem origem na produção de tigelas para a Cerimônia do Chá, no século XVI, no Japão e atualmente é uma técnica experimentada por artistas plásticos para criar obras  simultaneamente rústicas e refinadas

    Por Celso Setogutte

    Certa vez fui convidado para participar de uma festa ao ar livre na casa de um amigo artista, umas vinte pessoas, pintores, atores, escritores. Estavam reunidos num amplo terraço, conversando, bebendo.  Havia pincéis e vasilhas com esmalte dentro delas por toda parte. Passado algum tempo, entregaram uns vasos de cerâmica sem esmalte para escrevermos ou pintarmos sobre eles. Fiz pinturas com estranhos e grandes pincéis, pegaram meus dois vasos, submergiram em um esmalte de chumbo branco cremoso e depois colocaram para aquecer e secar ao redor de um pequeno forno portátil no jardim,  a alguns metros além do terraço. Após alguns minutos, utilizando umas longas pinças de metal, introduziram os vasos cuidadosamente no interior do forno que estava com a sua câmara vermelho escuro incandescente muito quente mas, apesar disso, os vasos não se quebraram; colocaram umas placas refratárias tampando o forno  e mais combustível na fornalha, até saírem faíscas. Em meia hora, o interior do forno  tornou-se  gradualmente  vermelho claro brilhante e pude ver através do visor o esmalte dos nossos vasos fundido e reluzindo.  As placas foram  retiradas,  e utilizando as longas pinças, tiraram um a um os incandescentes vasos que delicadamente foram  colocados sobre lajotas.  Seus brilhos foram atenuando e apareceram as verdadeiras cores, enquanto se produziam curiosos ruídos, leves, secos e tintineantes o esmalte ia craquelando  por efeito do  rápido resfriamento e contração . Transcorreram outros cinco minutos e pudemos  pegar cautelosamente nossos vasos .

    Obras de Celso Setogutte

     

     

    Esse relato poderia ter sido feito por qualquer um de nós quando vivencia uma queima de raku pela primeira vez. Porém, é uma livre transcrição de trecho do clássico livro do ceramista Bernard Leach A Potter`s Book, editado em 1940, que adaptou e introduziu o raku no ocidente (Inglaterra).  Hall Riegger (1948) e Paul Soldner  (1958),  ajudaram a desenvolver a maneira ”ocidental” de fazer raku, posteriormente, nos Estados Unidos

    A cerâmica raku tem uma longa história e seu nome associa-se às peças feitas para o palácio Juraku, construção do século XVI,  situada em Kyoto, para o qual se produziam as primeiras peças. “Alegria” e “felicidade” também são termos associados ao nome devido ao kanji. O termo se converteu no nome da família que produzia as peças, iniciando em 1573 com Chojiro. Atualmente está na 15ª geração, com Raku Kiechizaemon XV, graduado em Belas Artes pela Universidade de Tokyo , em atividade  no museu da família , em Kyoto.

    O raku originou-se na manufatura do chawan (uma espécie de xícara)  para  o chanoyu (cerimônia do chá). São peças únicas, modeladas a mão (não no torno), queimadas individualmente num formo de carvão e foles, opacas e intimistas, simples e carregadas de silêncio, tradicionalmente monocromática (negras ou brancas), com poucas variações ao longo dos séculos, associadas ao zen e ao wabi-sabi. São peças queimadas em baixa temperatura (até 900 o C), um pouco porosas e frágeis.

    Obra de Claudine Watanabe.

    Na adaptação ocidental é usada uma gama maior de esmaltes /cores e é feita uma acentuada redução (diminuição do oxigênio) pós- queima, retirando as peças incandescentes do forno e introduzindo-as em recipientes / latões contendo materiais combustíveis (madeiras, folhas, cascas) que “incendeiam” e produzem bastante fuligem. Em geral,  muitos convidados participam nas queimas, ajudando na manutenção do fogo, na colocação ou retirada das peças com as pinças, em várias sessões. A queima é rápida, os resultados pouco previsíveis, com o característico craquelado e ocorrem muitas variações nas cores e aspectos metálicos reluzentes. Ar, água, fogo, terra juntos num processo  forte e rápido, fascinante e sedutor.

    Celso Setogutte é médico, e fez estudos de pós-graduação no Japão (Kobe e Tokyo 1990 -1991).  Ceramista e artista plástico, frequentou o atelier de cerâmica de Alice Yamamura por mais de 10 anos, participou em mais de 30 mostras, salões, exposições. Obteve prêmio no 16º  Salão Paranaense de Cerâmica (2004), 16ª. Mostra de Artes Plásticas de Cascavel (2005) e no 1º.Salão Nacional de Cerâmica (2006). Tem umi atelier na região metropolitana de Curitiba,  com fornos a gás e a lenha.

    12 ENTREVISTA | O GRAFFITI SOCIAL DE TITI FREAK

    Foto: © Kenichi Aikawa

    O grafiteiro Titi Freak teve o primeiro contato com o spray em 1995. Nesse período, passou a desenvolver outras atividades, como trabalhos para revistas de moda e design,  publicidade para grandes empresas e flyers para festas. Além de São Paulo, suas obras já foram exibidas em  Londres, Madrid, Paris, Newscastle, Tóquio, Osaka, Nova Iorque, Los Angeles, Vancouver e Berlim.  Em 2012 foi convidado pela Fundação Japão para desenvolver um trabalho com graffiti em Ishinomaki, cidade da província de Miyagi, onde aconteceu o terremoto e o tsunâmi, em março de 2011. Lá, ele fez 15 pinturas em 10 dias.

    Por Marília Kubota

    MEMAI – O que a arte do graffiti significa para você?

    TITI FREAK – Devo tudo ao graffiti, por me fazer visualizar outros caminhos e também encontrar meu estilo de pintura autoral, minha escola.

    MEMAI – Qual a diferença entre a arte de rua e a arte em galeria?

    TITI – Tudo. Na rua, você está sujeito a qualquer coisa, as pessoas irão reagir com a ação. É uma outra atmosfera, por isso que muitas vezes a pintura do mesmo artista que expõe seguem linhas diferentes, desde proporções a detalhes. As obras de galeria acabam tendo mais do artista, pelo fato de conviver com o artista por um tempo maior.

    Foto: © Kenichi Aikawa

    MEMAI – Como você projeta o trabalho para ser exposto na rua ou na galeria?

    TITI – Na galeria, eu costumo saber mais sobre o espaço físico para que cada peça possa ter um atenção única, a exposição precisa ter uma transição. Na rua, na maioria das vezes, a minha pintura é freestyle, olho o local e crio. Gosto de usar a arquitetura da cidade, do local, as texturas da parede, do metal, da madeira, tudo isso influencia muito.

    MEMAI – Sofreu influência de algum artista erudito?

    TITI – Não. A influência, em meu trabalho, vem do meu convívio, do que está ao meu redor no momento. Outras pinturas, outros artistas que gosto de apreciar. Mas tento me manter em meu mundo.

    MEMAI – Como foi trabalhar com moda?

    TITI Sempre gostei de roupas, de ser único, usar alguma camiseta ou tênis diferente da maioria. Acredito que foi uma consequência das minhas pinturas e ações. Quando comecei a pintar na rua, em 1996, eu tinha uma marca de roupa underground (chamada FreakArt) que vendia em algumas lojas no centro da cidade, então desde o começo, eu já estava nesse meio sem saber.

    MEMAI – Qual a sua opinião sobre arte e mídia, é uma complementação necessária?

    TITI  – Dependendo do tipo de arte e de mídia.

    MEMAI – Para o artista, é possível ser crítico e midiático ao mesmo tempo?

    TITI Não somente o artista, mas com qualquer um, em qualquer coisa. Acredito que é exatamente isso que te faz crescer e estar sempre buscando algo novo.

    Foto: © Yui Ishikawa

    MEMAI – Por que você resolveu ir ao Japão ajudar as vítimas do tsunâmi com seu trabalho?

    TITI  – Amo o Brasil, mas também o Japão, por isso sou mestiço – culturas diferentes me faz despertar novas ideias, novos caminhos. Quando soube do tsunami pela tv, sentia que precisava fazer algo pra ajudá-los. Conheço as leis do Japão sobre o graffiti e sabia que seria muito difícil. Três meses depois recebi um convite da Fundação Japão (a sede, de Tokyo) e da Embaixada do Brasil em Tokyo me propondo uma ideia de um projeto de graffiti em Ishinomaki. Não pensei duas vezes, as vezes, acho que realmente eu tinha que vir pra cá (Japão). Já estou há 7 meses e pretendo ficar por mais 1 ano.

    MEMAI – Que relação você vê entre a arte e as causas sociais, é possível mudar o mundo com a sensibilidade artística?

    TITI – Sem dúvida, não somente a pintura, mas qualquer tipo de expressão artística. Arte é sentimento que se transmite e que se recebe. Essa troca provoca  sensações e ideias nas pessoas, que conseguem ver tudo de um outro ponto a vida.

    MEMAI – Além da colaboração com as vítimas do tsunami, qual a sua relação com o Japão ou a arte japonesa?

    TITI  – Sou neto de japoneses, meu avós são de Hiroshima e vieram na primeira imigração ao Brasil, no Kasato Maru. Vieram trabalhar com café e buscar uma vida nova. Agora sou eu, nascido no Brasil e vivendo no Japão, como uma espécie de ciclo de gerações. Arte e cultura japonesa que convivi/conheci na minha infância com meus avós no Brasil.

    MEMAI – Conte um pouco como foi a filmagem do documentário para a NHK e qual foi a sensação de voltar a uma região atingida e trazer alegria e cor para as pessoas locais.

    TITI Foi muito emocionante poder voltar e rever as pessoas no qual me tornei amigo e poder pintar novamente. Saber que as pessoas de Ishinomaki realmente gostaram do meu trabalho, querendo que eu pintasse mais e mais lugares da cidade. Isso me deixou muito feliz e recompensado! O mais interessante é que esse documentário se torna um registro desse grande recomeço de Ishinomaki e desvenda a reação que a arte pode ter nas pessoas.

    Saiba mais sobre Tomorrow, a série de documentários produzidos pela NHK sobre a tragédia de 11 de Março no Japão e o quê artistas, pensadores e atletas fizeram nas áreas afetadas e com a população em http://www.nhk.or.jp/japan311/tomorrow/

    Marilia Kubota é editora do JORNAL MEMAI, mestre em  estudos literários (UFPR) , organizadora do livro “Retratos Japoneses no Brasil” (2010) e  integrante de 7 antologias de poesia e prosa.

    NOTÍCIAS | TEATRO KYOGEN EM SÃO PAULO

    O teatro  Kyogen,  considerado com o teatro Nô,   Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, poderá ser apreciado em duas apresentações essa semana, promovidas pela  Fundação Japão,  em São Paulo.

    A Companhia Shigeyama, de Kyoto,  apresenta duas peças  no Teatro Gazeta nessa quarta-feira (11), e uma peça no domingo (15), no Festival do Japão. No Teatro Gazeta. os atores Hayao Tagaya e Hiromi Shimada (pai e filho, respectivamente) encenam  “Kaminari” (Deus do Trovão) eNeongyoku” (Cantando deitado). e no festival, “Kaminari“. As atuações são em japonês, mas com explicação prévia em português e a recomendação etária é livre.

    Descrito como o protótipo do teatro moderno, no Kyogen atuam apenas  homens, e a encenação enfatiza o diálogo e  gestos ampliados, além de figurinos tradicionais e vistosos. Dança e canto também fazem parte da encenação,  dinâmica e divertida.  Hayao Tagaya é  mestre de Kyogen no estilo Okura de teatro Nô. Hiromi Shimada estreou nos palcos em 1984, como shite – o ator principal e há dez anos, tornou-se discípulo do 13º Sengoro Shigeyama.

    “O Kyogen é um teatro tradicional cômico do Japão que existe há mais de 650 anos. Com uma estrutura de palco muito simples, sem cenografia, as estórias tratam de temas atuais como a relação de patrão e empregado, ou então apresentam personagens inusitados como oKaminari. Não há palavras que expressem as sensações que o Kyogen encenado ao vivo pode proporcionar, e convido o público para essa experiência única”, acentua Shimada.

    A origem

    O Kyogen teve origem no século XIV e manteve seu formato atual desde o século XVI,  conhecido como teatro tradicional e cômico, encenado entre as peças do lírico Nô. Devido a mudança dos costumes, recentemente programas exclusivos de Kyogen – fato inédito – já tem sido apresentados no Japão.

    Kyogen é constituído de duas escolas: a Okura e a Izumi. A Família de Sengoro Shigeyama, da Companhia Shigeyama  pertence à Escola Okura. A denominação do líder da família, Sengoro Shigeyama, vem do Período Edo (1603-1868) e tem sido repassado de geração em geração, encontrando-se atualmente na décima terceira linhagem. É uma família reconhecida, prestigiada pelo Palácio Imperial de Kyoto e foi apreciada pelo lorde feudal de Hikone no passado.

    Serviço

    KYOGEN – Teatro Tradicional Cômico do Japão
    11 e 15 de julho de 2012, em São Paulo

    11 de julho de 2012 (quarta-feira), às 20h
    Duração:
    90 minutos
    Capacidade: 700 lugares
    Local: Teatro Gazeta (metrô Brigadeiro – Linha Verde)
    Av. Paulista, 900 – Térreo, São Paulo
    Tel: (11) 3253-4102
    Ar condicionado e acesso para deficientes

    15 de julho de 2012 (domingo), às 12h
    Peça Kaminari” (Deus do Trovão)
    Duração: 40 minutos
    Local: 15º Festival do Japão – Palco Principal
    Centro de Exposições Imigrantes
    Rod. Imigrantes km 1,5 – São Paulo
    (Ônibus gratuito no metrô Jabaquara – Linha Azul)
    Tel: (11) 3277-6108/8569 (Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil – KENREN)

    Ingresso do festival: R$ 10,00 nos postos de venda e no site. Gratuito para crianças até 8 anos e idosos acima de 65 anos

     

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