Os vários livros publicados sobre a área de Estudos Japoneses no Brasil são marcados pela diversidade de temas. Roland Barthes considerava o Japão um sistema de signos, que deveria ser interpretado com luz própria. Essa, também, a opinião do antropólogo Claude Levi-strauss , que definia o país como sendo uma “cultura do avesso”, sendo o avesso o lado complementar do que é visto como o direito.
Ao contrário, porém, de Barthes e Levi-strauss, que não conheciam a língua japonesa, conhecê-la e dominá-la, para os pesquisadores de Estudos Japoneses, é fundamental. Assim se livram de generalizações e leituras de segunda mão, embora mesmo por leituras intermediárias, japonólogos tenham conseguido realizar ensaios brilhantes.
Curioso, perceber, num ensaio sobre orientalismos no cinema, assinado por Marcela Canizo, em Tokyogaqui, que a miscelânea, a colagem de fragmentos e a transversalidade fazem parte da cultura japonesa no Ocidente. Não há como fugir do orientalismo ou do Japonismo. Mesmo no território sagrado da Arte, o Japão puro escapa pelas bordas. E talvez daqui, do Brasil, onde todas as tendências culturais e étnicas confluem, seja possível observar a carnavalização de uma “tradição milenar” – em verdade, miscigenada desde o início de sua formação.
A seguir, uma relação de livros que trazem artigos sobre Estudos Japoneses no Brasil. A lista é incompleta, e os livros são alguns dos últimos lançamentos na área, excluindo anais de seminários científicos.
Reflexões sobre a cultura japonesa à luz do século XXI – Tradição x Modernidade. (Apaex, 2013). Organização Mário Sato. Publicação da Associação Paranaense de Ex-Bolsistas Brasil-Japão (Apaex), reunindo apresentações de 7 seminários , sob forma de artigos científicos, versando sobre os temas Diferenças Culturais, Direito, Dekasseguis. Meio Ambiente, Educação, Aspectos Estéticos e Aspectos Religiosos. Mais informações aqui.
Em busca do Japão Contemporâneo (Hedra, 2013). Organização Christine Greiner, Cecília Noriko Sato e Marco Souza. Além de artigos, traz entrevistas com pesquisadores, feitas por Cecília Noriko Sato. Reúne entrevistas e ensaios sobre a cultura e a sociedade japonesa contemporânea. Uno Kuniichi escreve sobre o Japão e alguns filósofos e artistas ocidentais; Kuriyama Shigehisa trata do reconhecimento de circuitos (ora visíveis, ora invisíveis) que conectam seres humanos, artefatos, alimentos, dinheiro e o universo; Igarashi Yoshikuni elabora cruzamentos entre narrativas diversas, da memória individual às experiências coletivas; e, finalmente, Mauro Neves põe em cena uma cultura em rede para pensar os novos circuitos da produção cultural na Ásia. As pesquisas foram feitas por Cecília Noriko Sato.
Imagens do Japão 2 – Experiências e Invenções (Annablume/Japan Foundation, 2012) Organização Christine Greiner, CecíliaNoriko Sato e Marco Souza. Imagens do Japão – Pesquisas, Intervenções Poéticas, Provocações (Annablume/Japan Foundation, 2011). Organização Christine Greiner e Marco Souza. Os dois volumes da série reúnem artigos de pesquisadores do Brasil, Japão, Itália e Argentina sobre cinema, culinária, cultura pop, sociedade e artes, analisando como se dá a reinvenção de imagens tradicionais do Japão e como elas vêm sendo apropriadas pelo Ocidente. Algumas pesquisas partem de levantamentos bibliográficos e de filmografias específicas, outras nascem de experiências práticas e de depoimentos pessoais. Entre os pesquisadores estão aria Roberta Novielli, Marco Souza, Marcela Canizo, Mauro Neves, Cecília Noriko Ito Saito, Michiko Okano, Christine Greiner, Jo Takahashi, Fernando Saiki, Gabriel Theodoro Soares, Yuri Firmeza.
O Japão não é longe daqui (Fundação Japão, 2011). Organização Antônio Motta. Esta obra trata da imigração japonesa no Nordeste, das trocas de conhecimentos e criatividades entre as duas culturas, incluindo o universo da globalização, do transnacionalismo e do consumo. Traz artigos sobre saúde, economia, história, cultura pop , música, religião e gastronomia.
Japonesidades Multiplicadas (Edufscar, 2011). Organização Igor José de Renó Machado. Traz artigos que resumem pesquisas do Laboratório de Estudos Migratórios da Universidade Federal de São Carlos UFSCar. As pesquisas trazem uma abordagem alternativa à questão da etnicidade japonesa no Brasil, com colaborações de Victor Hugo Kebbe, Gil Vicente Lourenção, Nádia Luna Kubota, Erica Rosa Hatugai e Fábio Ricardo Ribeira.
Tokyogaqui – Um Japão imaginado (Edições SescSP, 2008) . Organização Christine Greiner e Ricardo Muniz Fernandes. Tokyogaqui é uma iniciativa de pensar o Japão como um local de partilha daquilo que permanece na memória de cada não-japonês, brasileiro e especificamente paulistano. No Japão ora revelado coexistem duas realidades – a da memória e a da dispersão, um espaço templo e outro shopping, um lado emoção e outro automação. Mais do que uma comemoração de centenário, mais do que documentos, os textos reunidos em Tokyogaqui são caminhos para a compreensão de um Japão real, um Japão recriado no reino do descartável e também na resistência da tradição.