A Shindo Renmei, mais famosa organização nacionalista japonesa ativa no pós-guerra, no Brasil, mais uma vez é tema de um filme. No documentário Yami no Ichinichi (Um dia de trevas) – O Crime que abalou a Colônia Japonesa no Brasil, o cineasta Mario Jun Okuhara propõe uma revisão da história da Liga do Caminho dos Súditos . O filme traz o depoimento de Tokuichi Hidaka, que, em 1946, aos 19 anos de idade, foi um dos autores do assassinato do coronel Jinsaku Wakiyama, em crime atribuído à organização ultranacionalista Shindo Renmei.
Depois de cometer o crime, com mais três amigos, Hidaka entregou-se à polícia e cumpriu 15 anos de prisão. Quando saiu, foi discriminado pela comunidade nipo-brasileira. O documentário é a oportunidade de Hidaka contar a sua versão da história. Ele volta à Ilha de Anchieta para gravar cenas e relembrar suas memórias. O filme traz também depoimentos de integrantes da família Wakiyama, de historiadores e políticos, e uma conversa do escritor Fernando Morais, autor do livro Corações Sujos, com a historiadora Célia Oi.
Fora os testemunhos de Hidaka e da família Wakyama, os depoimentos de historiadores e jornalistas reforçam a pressão em que viveu a comunidade nipo-brasileiros entre os anos 1935 e 1945, e também no pós-guerra.
Devido ao apoio aos países aliados, durante a década da Era Vargas, os imigrantes japoneses, alemães e italianos estabelecidos no país foram considerados inimigos. As várias restrições impostas, como a proibição do uso da língua japonesa, a circulação de jornais e transmissão de rádio e as reuniões públicas, isolaram a comunidade. Esse contexto de dificuldade em receber informações sobre o Japão foi ideal para o surgimento de facções nacionalistas. As seitas manipulavam informações, chegando a forjar documentos e jornais, afirmando que o Japão havia ganho a guerra. A comunidade dividiu-se entre derrotistas (makigumi) e vitoristas (kachigumi) e a oposição começou a desencadear tumultos internos, com uma série de assassinatos.
O documentário levou 11 anos para ser finalizado. O interesse pelo tema começou em 1997, com estudos de Okuhara com o professor Michiro Motoda e acentuou-se com o lançamento do livro de Fernando Morais , em 2000. O cineasta quis tomar partido , embora o documentário seja dominado pelo ponto de vista de Hidaka.
Okuhara é repórter e produtor, iniciou sua carreira em documentários no Programa Imagens do Japão no ano de 1997, com temas culturais. “Uma vida pelo Beisebol”, “Batyan” e “Shamisen para Sempre” são títulos de documentários exibidos na TV brasileira.
Idealizador do Projeto ABRANGÊNCIAS para discussão sobre Representatividade, Participação Política, Direito à Verdade e à Memória, Okuhara dedicou 12 anos de pesquisa para resgatar os episódios do conflito vitorista-derrrotista no pós-guerra e sobre a brutal repressão contra japoneses e descendentes na ditadura do presidente Getúlio Vargas.
O documentário pode ser assistido aqui.